Temos em nossas mãos o livre arbítrio, e com ele iremos aonde quisermos, faremos o que desejarmos. São inúmeros os caminhos. No entanto, o mais difícil, podem ficar certos disso, é sabermos o que queremos, é termos certeza do caminho a escolher . Quando estamos certos da onde queremos chegar, então o resto é fácil, por que nenhum esforço é demasiado grande para uma certeza, por que uma profunda certeza sempre merece uma dedicação do tamanho da própria vida.
Podemos concentrar fortunas, podemos ser um idiota de gravata, podemos enfim chegar muito longe perante outros olhos.
Mas o problema é exatamente esse. Por quem ou por qual motivo fazemos as coisas? Quanto tempo continuaremos nos esforçando para sermos aceitos? Quanto tempo continuaremos correndo dentro de uma gaiola, tentando encontrar dentro dela o que não está ali? Quanto tempo enfim, como disse Sartre, continuaremos sendo o que os outros acham que somos e não o que nós acreditamos ser?
Não me entendam mal. O que quero dizer é que, não poucas vezes, procuramos fora de nós o que está lá dentro. Perguntem-se para si mesmos: o que eu quero nesta vida? Depois de encontrarem essa primeira resposta, questionem: por quê eu quero isto? Então perguntem novamente: mas por quê eu desejo aquilo? Verão, que após milhares de porquês sobrará muita, muita pouca coisa por que lutar.
Verá-se enfim que esse contínuo questionamento funcionará como uma broca nas nossas almas e que desse buraco brotarão as mais diferentes surpresas, as mais inesperadas descobertas a respeito de nós mesmos. Aí então começaremos a desenvolver uma percepção mais acurada a respeito de todas as coisas, principalmente da nossa própria individualidade e existência. Conhece a ti mesmo, uma vez escreveram. Continuando nesse caminho, faremos as pazes com nosso eu e os espinhos que tão seguidamente nos ferem o espírito começaram a desaparecer. Mais adiante,
será mais fácil perdoar e amar o próximo. Mais adiante ainda, olharemos com extrema tranqüilidade nossa própria dor, até riremos dela.
Existe algum objetivo maior na vida do que essa paz de espírito? Existe algo que traga mais felicidade que paz? Existe outra pérola mais importante a buscar? Se existir, por favor me avisem.
Por isso, não tentemos mudar o mundo. Mudemos a nós mesmos. É fácil dividir a terra dos outros, assim como é fácil desejar mudar os outros. Difícil é encarar o milhão de ilusões, vícios e medos que habitam nosso interior: melhor ser reto do que retificado, disse Marco Aurélio. É até engraçado: quantas vezes vamos as ruas gritar por um mundo mais justo, enquanto que, por vezes, não conseguimos perdoar nem nossos pais.
E embora estas tarefas pareçam mais adequadas para um asceta do que para um executivo, elas serão, no seu devido tempo, desempenhadas por todos. Elas são, em verdade, constantemente executadas. E os tombos que levamos através dos tempos fazem parte desse caminho. A dor é uma estranha amiga e continuará presente em nossas vidas até atravessarmos o precipício final que, ao contrário do que muitos pensam, não é a morte. Essa ponte só será transposta e só chegaremos à verdadeira felicidade após a completa compreensão de todas as verdades. A ausência de sofrimento está apenas em dois lugares: na absoluta ignorância ou na absoluta sabedoria. E eu lamento informar que todos nós estamos no meio do caminho. Até lá é uma jornada longa, realmente longuíssima. É uma viajem para os estóicos de espírito livre, como esses dias eu li. Travaremos mil batalhas contra nós mesmos até esse fim. Mas esse é o tango da vida: glória e miséria em uma só música. E quando queremos a paz, devemos nos preparar para a guerra.
Por isso, não fujamos da dor. Olhemos no fundo dos olhos dela e a beijemos na boca.
Mas não pensem que é isso um ensejo para o masoquismo ou mesmo para um relacionamento passivo para com o sofrimento. O que quero dizer, é que a nossa felicidade, fim último da vida, passa pela compreensão do que é sofrimento e pela mudança do nosso ponto de vista em relação a ele. Por isso falo de dor nesta noite feliz: falo porque quero ver na minha vida e na vida de todas as pessoas que eu gosto, a felicidade proliferar sem limitações.
Mas nessa brincadeira toda existe um probleminha. Às vezes, essas dificuldades nos põem de joelhos. E ai é hora de descobrirmos que existe algo maior que nós mesmos, que existe algo ou alguém de quem emana uma força e paz infinitas. Alguns chamam isso de energia cósmica, outros de Deus, Buda, Alá. Mas isso não interessa: a essência de todas as religiões que visam o bem
comum é a mesma e as distorções geradas entre elas interessa apenas aqueles que querem vender armas ou aumentar círculos de poder.
O que importa é que construamos um bom relacionamento com essa entidade, até por que, sem ela, as coisas costumam ficar um pouco mais difíceis. Essa construção normalmente é iniciada dentro de nossas casas, nas nossas famílias.
A respeito do trabalho, acredito ser importante lembrarmos que ele é nossa espinha dorsal, e isso o torna uma condicionante vital para nossa realização pessoal. A administração e o comércio exterior nos proporcionam inúmeras possibilidades de atuação. Interessa mais encontrar aquelas que estejam atualmente acima das nossas capacidades atuais para que assim, mantenhamos o constante progresso.
Para isso, é preciso que cultivemos dentro de nós a empolgação, o vigor e a paixão pelo que fazemos. Assim, galgaremos quaisquer os passos que desejarmos.
Chegaremos onde quisermos. Acreditem.
“Acho que todas as pessoas precisam de dogmas para viver: quem sabe um Deus, um trabalho e uma família?”